À medida que a pandemia redefine as principais tendências de trabalho em todo o mundo, os Gestores de Recursos Humanos precisam repensar as estratégias de gestão que se adequem às exigências do ambiente volátil conjugado com as demandas da liderança de topo de recortar custos ao mesmo tempo de manter/aumentar o desempenho da empresa.

A conjuntura actual vai ter um impacto duradouro no futuro do trabalho, ainda que o coronavírus seja controlado e tudo volte a uma certa normalidade económica aos poucos.  «É fundamental que os líderes de negócios entendam que as mudanças em grande escala estão mudando a forma como as pessoas trabalham e como os negócios são realizados. Os líderes de RH que respondem de forma eficaz podem garantir que suas organizações se destaquem dos concorrentes.»  disse Brian Kropp, da Gartner num artigo que analiza as tendências que vão ter mais impacto no trabalho dos Recursos Humanos.

Isto quer dizer que devemos avaliar estas novas tendências na forma de trabalhar como o teletrabalho, escalas, redução de salário/horas, novas condições de higiene, e outros que temos adoptado recentemente, para logo ver quais dessas tendências “veio para ficar” (o “novo normal”). Essas novas tendências que têm mais probabilidade de ficar são as que temos que ver com mais detalhe. Ver o impacto nas operações e metas estratégicas das nossas empresas, identificar quais requerem acção imediata e avaliar em que grau essas tendências mudam as metas e planos estratégicos pós-COVID-19.

Uma dessas novas tendências que definitivamente vai ficar é a da Cedência temporária de trabalhadores, ou mais conhecida como “Manpower” ou “Outsourcing”. A incerteza económica da pandemia fez com que muitos trabalhadores perdessem os seus empregos e expôs outros trabalhadores pela primeira vez a modelos de trabalho não padronizados. Muitas organizações responderam ao impacto económico da pandemia reduzindo os orçamentos dos seus contratados, mas com a visão de poder voltar a aumentar o número de contratos assim que as condições económicas voltassem a níveis pré-COVID-19. De facto, no analises da empresa de estudos de RH Gartner que fez neste ano 2020, indica que 32% das organizações substituíram funcionários com contrato fixo por trabalhadores temporários ou em regime de cedência, como uma medida de economia de custos e previsão de contingências futuras.

A utilização de trabalhadores temporários ou em cedência já era uma realidade em crescimento para sectores como o petrolífero, que tem projectos com início e fim determinados e precisam forças de trabalho altamente especializadas por tempo determinado; caso semelhante para as grandes empresas tecnológicas que precisam grande número de programadores e pessoal das TIC de forma imediata segundo ganham novos contratos ou recebem novos investimentos; ou até para as novas empresas da “gig economy” como Uber, Tupuca e Kubinga que não têm funcionários próprios nas suas operações, se não trabalhadores independentes que trabalham segundo a demanda do consumidor final. Este modelo de trabalho tem certamente ajudado as empresas destes sectores a manter-se altamente competitivas em ambientes de alta volatilidade. Tudo indica que as empresas de outros sectores, mas tradicionais, continuarão também a expandir o seu uso de trabalhadores temporários ou em regime de cedência para manter mais flexibilidade na gestão da força de trabalho pós-COVID-19. Pelo que esta nova tendência vai merecer uma maior análise por parte dos Gestores de Recursos Humanos e as suas implicações a médio e longo termo na estratégia e finanças das suas empresas. Um bom exemplo dessa complexidade é o paradoxo de que enquanto os trabalhadores em cedência oferecem aos empregadores maior flexibilidade na gestão da força de trabalho, por contra os sistemas de gestão de talentos, desempenho, motivação ou de benefícios, podem tornar-se muito mais complicados e ter um impacto negativo no desempenho da empresa se não forem bem geridos. Cabe a nós analisar em função do nosso negócio, sector e ambiente se esta vai ser uma tendência que merece ser abraçada pela nossa empresa para se manter competitiva no futuro.

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