A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) é hoje tão inevitável como para qualquer partido político declarar-se como “verde”. De toda a forma, uma parte das políticas e práticas de RSC adoptadas não passam de acções de marketing glamouroso que pretende vender a imagem da empresa “boazinha” que se preocupa com os desfavorecidos socialmente e com a sustentabilidade ambiental, realizando acções filantrópicas em orfanatos e publicitando acções que visam a redução da emissão de gases de dióxido de carbono. Poucas são as excepções de empresas que usam a RSC como uma ferramenta de gestão estratégica ao serviço da relação bidirecional: sociedade-organização.
“A empresa ao serviço do Homem” é o título de um livro escrito por François Michelin (CEO da Michelin entre 1955 e 1999), onde afirma, atrevidamente, que a Michelin não fabrica pneus, mas sim objectos susceptíveis de salvar vidas humanas. A RSC começa exactamente aqui: na missão social da empresa. Sem conhecimento e vivência da mesma por todos os colaboradores (e demais stakeholders), a empresa não tem razão de ser. É através da RSC que se alcança todos os seus stakeholders, já que ela tem o poder de dar motivação aos colaboradores, pagando salários justos, mantendo práticas de gestão de pessoas dignas e promotoras do desenvolvimento pessoal e profissional; servir os clientes com qualidade e não lhes cobrando preços desajustados, respeitando e antecipando as suas necessidades; de tratar de forma condigna os fornecedores, pagando-lhes justamente e garantindo práticas de concorrência transparentes; de retribuir ao governo o pagamento de impostos que lhe possibilitará operacionalizar as suas políticas de desenvolvimento socio-económico de cada país; de garantir que a bioesfera terrestre existirá daqui a um incalculável número de gerações. Por aí fora…
As preocupações mais explícitas com a RSC, nasceram, nos anos 90 a partir dos boicotes dos clientes aos produtos de empresas como a Nike e a Shell que foram exemplos flagrantes de falta de ética. Estes boicotes foram a evidência derradeira que nos mostrou que o cliente (e aparente) David consegue vencer gigantes Golias multinacionais. O conhecimento das práticas quase esclavagistas praticadas pela Nike na Indonésia e a tentativa do afundamento do reservatório de petróleo Brent Spar, nas águas do Atlântico junto à Escócia, pela Shell UK, deflagrou a chama das práticas da RSC.
Hoje, as próprias legislações governamentais de muitos países tornaram este requisito como mandatário. Aliás, existem até acordos transnacionais que evidenciam a sua disseminação. A criação das normas ISO 8000 e 14001:2015 sobre a Responsabilidade Social e a Gestão Ambiental, respectivamente, com inspiração em diversas convenções da Organização para as Nações Unidas (ONU), são disso exemplo.
(Nota: Este artigo tem continuação num 2º artigo que será publicado brevemente!)
Gostei do artigo e do tema. Um ponto muito importante para refletir é o das empresas abraçaram realmente a questão da responsabilidade social, mas não somente para “fazer bonito”, aparecer nos media como uma empresa que se preocupa com a comunidade e com o meio ambiente, falarem menos de números e apresentarem mais factos, apresentarem o verdadeiro impacto positivo.
Muitas empresas precisam de reformular os seus conceitos de RSC, precisam de inovar, precisam de liderança nessa área, mais responsabilidade por parte dos líderes e acima de tudo responsabilização.
Muito bom, aguardo pela segunda parte.