Socialmente fomos educados para presumirmos que existe uma correlação fidedigna entre o sucesso e a felicidade. Mas afinal sermos bem-sucedidos é que o nos faz felizes ou sermos felizes é sinónimo de termos sucesso na vida? E o que realmente significa, nesta contemporaneidade ambígua, o sucesso? E a felicidade, será mesmo um dos novos tesouros lendários e mais um superalimento para a eterna (in)segurança humana?

Comecemos pelo sucesso. “Trabalha muito, ganha muito dinheiro, terás poder e sucesso e então serás feliz”. Esta é a fórmula social que nos foi transmitida através da nossa educação familiar. Esta sabedoria de que só com sucesso somos felizes está culturalmente enraizada nas mais diversas instituições sociais, nas nossas crenças populares e nas narrativas ficcionais. No entanto, para muitos de nós tanto o sucesso como a felicidade permanecem perpetuamente fora do alcance. Será que esta “fórmula” que nos é tão familiar está incorrecta? E se a pensarmos no seu inverso?

Segundo Gilbert (2010) “a felicidade é o objetivo final de praticamente todas as decisões que tomamos na vida.” O professor de Psicologia em Harvard defende que a medida para uma boa decisão depende se essa decisão nos traz prazer, sensação de bem-estar, felicidade ou contentamento. A verdade é que a felicidade é vista muitas vezes como um conceito subjectivo pela sua ardilosa mensuração e o sucesso é habitualmente definido extrinsecamente e naturalmente construído por comparação aos outros.

Tal como o sucesso, a felicidade (no seu ideal utópico comummente conhecido) é uma construção social e um produto exacerbado da modernidade capitalista e da nova ditadura digital. A felicidade, como outras emoções, não é algo que se obtenha (ou que se compre), mas sim um estado no qual habitamos intermitentemente e em que acreditamos. A aceitação sem auto expectativas da individualidade de cada um e o assumir intrínseco das nossas crenças, escolhas e estados emocionais é o início da construção de uma vivência de bem-estar.

Esta aceitação própria está directamente relacionada a uma auto-percepção mais sólida, a uma capacidade mais eficaz de enfrentarmos os desafios e os riscos, a uma avaliação mais positiva da vida e logo a uma geração de menos emoções negativas e mais positivas. Serão então a resiliência e a determinação os elementos-chave da equação do sucesso?

Ter uma mentalidade construtiva envolve entendermos que assumirmos os riscos apropriados poderá por vezes levar-nos ao fracasso. A diferença, porém, está em como uma pessoa com mentalidade construtiva se define e como é que recupera dos fracassos.” (Dweck, 2016, p. 245). Esta mentalidade só é possível quando adoptamos uma postura optimista para continuarmos mesmo quando os tempos são difíceis e mesmo quando experienciamos frustração. O segredo está em mantermos essa perseverança por um longo período de tempo.

Dito isto, quem vem primeiro o ovo ou a galinha? A felicidade ou o sucesso? Não sei. Estou sim certo de que sermos autênticos e genuínos para connosco antes de tentarmos sê-lo para com os outros e abraçarmos voluntária e intrinsecamente um projecto de auto-conhecimento, poderá aumentar a probabilidade de atingirmos uma maior sensação de bem-estar pessoal e profissional sem estarmos eternamente prisoneiros das expectativas individuais, sociais e organizacionais.

Cláudio Osório – Co-founder e Head of Experience Design da OKU HUMAN®

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