Já testou o “ChatGPT”? Porque espera? Segundo a Bloomberg, 30% dos profissionais inquiridos já o fizeram.
Num trimestre apenas, a plataforma de Inteligência Artificial generativa, “ChatGPT”, da empresa OpenAI, fez-nos encarar a realidade futura, de curto / médio prazo, de uma forma muito mais…, realista. Passamos a saber com o que podemos contar.
Em termos práticos, o “ChatGPT” consegue dialogar connosco e produzir praticamente qualquer tipo de texto com uma qualidade…, quase humana, e sem erros de palmatória.
Detalhes tecnológicos à parte (a plataforma tem uma rede neuronal com cento e setenta e cinco mil milhões de parâmetros e foi treinada com um volume de informação (disponível publicamente) que levaria, a um ser humano, cinco mil anos de leitura, vinte e quatro horas por dia!), ainda que apenas se trate de uma máquina estatística, o “ChatGPT” contém uma enorme quantidade de conhecimento, que consegue usar para responder, bem, aos mais diversos tipos de questões. Respostas desta plataforma “passaram” em exames de MBA, de Engenharia e de Medicina…
A título de mero exemplo, ilustra-se uma resposta do “ChatGPT” a uma questão genérica, simples, colocada pela McKinsey:
Questão:
– Escreva o parágrafo de abertura de um artigo sobre como a Inteligência Artificial generativa impactará os negócios.
Resposta do “ChatGPT”:
– A ascensão da Inteligência Artificial generativa tem o potencial de ser um grande divisor de águas para as empresas. Essa tecnologia, que permite a criação de conteúdo original aprendendo com os dados existentes, tem o poder de revolucionar sectores e transformar a forma como as empresas operam. Ao permitir a automação de muitas tarefas que antes eram realizadas por humanos, a Inteligência Artificial generativa tem o potencial de aumentar a eficiência e a produtividade, reduzir custos e abrir novas oportunidades de crescimento. Como tal, as empresas que são capazes de alavancar efectivamente a tecnologia, provavelmente obterão uma vantagem competitiva significativa.
Bem… Não é uma resposta perfeita. Mas impressiona!
O “ChatGPT” não passa, ainda, o teste de Turing (*) e, muito provavelmente, nunca nenhuma máquina o conseguirá fazer. Mas isso não significa que a plataforma não se possa constituir, no imediato, como uma ferramenta extremamente útil e revolucionária.
Fazer comparações com o passado tende a dar-nos uma falsa sensação de conforto. Só que, ao contrário das anteriores grandes revoluções da história da humanidade (a “Revolução Cognitiva” (iniciada há 70.000 anos), a “Revolução Agrícola” (iniciada há 12.000 anos) e a “Revolução Industrial” (iniciada há 500 anos apenas, mas com maior expressão nos séculos XVIII e XIX)), esta nova “revolução” vem alterar completamente o paradigma da evolução do conhecimento e da empregabilidade.
Estamos a assistir ao início de uma nova era na forma como usamos e interagimos com as máquinas. Modelos deste tipo tornar-se-ão progressivamente melhores e mais comuns. Serão, de facto e com vantagem, os nossos futuros “Personal and Professional Digital Assistants”…, na automatização de tarefas rotineiras; na resposta às questões dos colaboradores; no acesso e tratamento de grandes volumes de informação; no apoio à tomada de decisão; na identificação de padrões de consumo / comportamentos; na melhoria e optimização de conteúdos; na optimização da experiência do cliente, externo e interno; no desenvolvimento de sistemas e conteúdos de formação e desenvolvimento; nos temas de ciber-segurança e ciber-defesa; etc.
Figura 1: Utilizações de Inteligência Artificial generativa em contexto empresarial (Fonte: McKinsey & Company)
Com assinalável sucesso, ainda que a um nível experimental, algumas organizações estão já a incorporar o “ChatGPT” (e plataformas similares, como o “Bard”, da Google) nas suas operações. A figura 1 apresenta um quadro da McKinsey que sistematiza algumas dessas utilizações de Inteligência Artificial generativa em contexto empresarial.
Desse quadro e focando-nos, para o que neste artigo é relevante, nos pilares organizacionais que mais directamente se relacionam e impactam na Gestão de Pessoas, sobressaem vários campos concretos de aplicação do “ChatGPT”, ou de um qualquer seu sucedâneo:
- Geração de perguntas para entrevista de avaliação e selecção de candidatos (e.g., direccionadas à função, filosofia da empresa, sector);
- Apoio no atendimento aos colaboradores, em modo self-service (e.g., onboarding, employee experience, secções de perguntas e respostas, questões legais, ambientes regulatórios);
- Pesquisa e resposta a questões em grandes volumes de informação;
- Introdução de dados, gestão de registos dos colaboradores, produção de relatórios e obtenção insights analíticos;
- Optimização das comunicações internas e externas (e.g., automatização de respostas de e-mail, automatização de traduções);
- Elaboração e revisão de informação legal e de projecto;
- Detecção, resumo e destaque de alterações em grandes volumes de informação;
- Geração de apresentações, a partir de texto…
Figura 2: Utilizações do “ChatGPT” na Gestão de Pessoas. (Fonte: HR one)
O “ChatGPT” é, portanto, uma solução a considerar para a gestão de pesquisas e “Q&A”, devido à facilidade com que consegue simplificar conceitos complexos, podendo responder directa e eficazmente às questões dos colaboradores. Sendo uma ferramenta “anónima”, pode também ser um importante auxiliar na produção e condução de Inquéritos de Satisfação de Colaboradores, ou outro tipo de recolhas de feedback. Como as questões podem ser colocada directamente, em linguagem natural, a formação necessária para a boa utilização do “ChatGPT” será mínima, o que potencia a sua eficiência.
Em termos Employer Branding global, a eficiência e eficácia de uma ferramenta como o “ChatGPT” ao serviço da Gestão de Pessoas, impacta positivamente o ambiente de trabalho, o Clima Organizacional e a produtividade, impulsionando o valor percebido da empresa como empregadora.
Pela sua natureza, o “ChatGPT” simplifica e democratiza a análise de grandes volumes de informação (e.g., bases de dados da Gestão de Pessoas), permitindo a obtenção de insights perspicazes (e análises preditivas) para uma melhor compreensão das tendências, assim como dos factores mais complexos que afectam o bem-estar, o desenvolvimento e a motivação das pessoas e, consequentemente, o sucesso da organização.
Tudo isto, naturalmente, coloca importantes e aliciantes desafios às áreas de Gestão de Pessoas, que saberão evoluir e adaptar-se às sucessivas ondas de inovação que os novos tempos nos trazem.
Bem a propósito, Sir Francis Bacon escreveu um dia que “… o tempo é o maior inovador…”.
De facto… Foi em 1997, que David Ulrich publicou a obra “Human Resource Champions”, onde lançou a ideia inovadora do “HR Business Partner”, em termos do seu papel e resultados esperados. À data, o Netscape Navigator era o navegador por excelência, o Motorola StarTAC dominava o mundo dos telemóveis, o Apple PowerBook liderava nos laptops inovadores, democratizavam-se os telefones residenciais sem fio, o Sony PlayStation (com um cartão de memória de 128k) era o que havia de mais moderno e era lançado o Windows 95! Em apenas duas décadas e meia, muita coisa mudou no mundo da tecnologia e, também, no mundo da Gestão de Pessoas. O conceito de “HR Business Partner” evoluiu de uma lógica de funções e resultados, para uma inovadora lógica de criação de valor para todos os stakeholders, por meio do talento individual, da liderança e do desenvolvimento de capacidades da organização como um todo.
Incorporar o “ChatGPT”, como plataforma de apoio à Gestão de Pessoas, será, muito provavelmente, o passo seguinte no desenvolvimento do dito “HR Business Partner”. Tem vantagens incontornáveis em termos de custo-benefício, integração, gestão e envolvimento dos colaboradores, que passam a ter um “HR Business Partner” virtual, dedicado, conhecedor e acessível a qualquer hora e em qualquer lugar.
Não estaremos a exagerar, se assumirmos que o “ChatGPT” será um autêntico game changer nas áreas de Gestão de Pessoas.
E não! Este artigo (ainda) não foi escrito pelo “ChatGPT”!
[ (*) – Teste de Turing. Vide: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_de_Turing ]
Luís de Matos
[ Advisory Board Member at LUSOFLY ]