Se o conceito de emprego já estava moribundo há algumas décadas, o que será dele neste período de incerteza extrema e em que a probabilidade de o perdermos é grande para muitos de nós?
Nessa época, as empresas assumiam um papel central na gestão do desenvolvimento de carreiras dos seus colaboradores. Hoje, mais do que nunca, cada pessoa é responsável pela gestão da sua própria carreira, já que neste novo mundo de carreiras sem fronteiras e proteanas, estas não seguem mais um percurso linear. Neste contexto, deixa de fazer sentido fazer uma busca pela vocação, pelas aptidões que temos e mais se coadunam a determinada função, já que a função que existe hoje, amanhã não existirá. A noção de vocação persegue-nos como se fosse uma obrigação a cumprir, deixando-nos presos a uma ideia de que a nossa identidade é pre-concebida e fixa.
Neste momento, somos quase todos forçados a ser autores da nossa história de carreira, em detrimento de apenas actores. O psicólogo conselheiro de carreira poderá auxiliar a pessoa a lidar com a transição imposta, no sentido de promover a sua capacidade de adaptabilidade perante os desafios que a situação lhe coloca. Este conselheiro não é o especialista que dá respostas, mas sim o que sabe quais são as questões certas a serem colocadas para que nasça na pessoa a consciência do caminho que precisa trilhar para reescrever a sua história de forma a que está tenha congruência com a identidade pessoal. Por outro lado, o conselheiro precisará auxiliar a pessoa no processo de re-significação dessa ruptura que pode constituir um trauma de carreira, nas palavras do psicólogo Mark Savickas, no sentido em que a pessoa, mesmo tendo passado por dificuldades geradoras de sofrimento psicológico, poderá dar um significado de desenvolvimento pessoal àquela experiência e entender como ela contribuiu para o seu desenvolvimento pessoal e de carreira, em detrimento de paralisação e vergonha.
Através da identificação do(s) tema(s) de vida e dos ambientes profissionais em que me sinto eu mesmo, posso participar em ocupações bastante diferentes que requerem competências muito diferenciadas. Ao contrário da orientação de carreira tradicional, o foco deixa de estar tão centrado nas aptidões e competências e passa a estar na identidade pessoal, que é relativamente consistente ao longo do tempo e das circunstâncias. Competências são treináveis, a identidade nem tanto.
Se fossemos contar a história da nossa carreira, desde a escolarização até ao dia de hoje, é provável que consigamos identificar um tema (ou vários) transversal a todas essas a essas vivências. Seja, por exemplo, o ajudar pessoas, o expressar a criatividade, o liderar e influenciar os outros, o organizar e planear, por aí fora. Pois bem, cada um desses temas de carreira pode ser expresso em diferentes ocupações. E, quando a há uma ruptura, surge a necessidade de reescrever a sua história e traçar o próximo capítulo.
Quando a mudança e incerteza são elementos intensos, precisamos buscar a “flexigurança”, ou seja, a segurança que deriva da nossa capacidade de adaptação e flexibilidade, conseguindo manter o senso de identidade pessoal.
Para terminar, usamos as palavras de Viktor Frankl, psiquiatra sobrevivente de um campo de concentração nazi: “quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se”.
Esse tempo em que vivemos nos obrigada a sermos resilientes
Texto inspirador Senhora Professora
Parabéns! Deu para beber um pouco mais da experiência.